Culturas energéticas ricas em fibras
Informações gerais
As culturas energéticas também incluem as culturas destinadas à extração das suas fibras vegetais, que são de interesse para o fabrico de vários materiais e bioprodutos. Nesta área, o CICYTEX abriu uma linha de investigação relativa à agronomia da cultura de kenaf e ao aproveitamento das fibras dos seus caules.
Propriedades da fibra de kenaf
O kenaf é uma planta herbácea, com um ciclo anual e uma elevada produção de biomassa, cuja fibra longa se pode utilizar na produção de papel, óleos, materiais de construção ou biocimentos. As fibras de kenaf são suficientemente fortes e leves para serem implementadas com sucesso na indústria automóvel, bem como na indústria da construção (blocos, painéis para paredes interiores e gesso para isolamento térmico), com custos de matérias-primas mais baixos.
Têm características adequadas para substituir as fibras de vidro em produtos plásticos e também podem ser facilmente aplicadas (em percentagens elevadas) em compostos plásticos. Possuem excelentes propriedades de isolamento térmico e acústico. Para tal, utiliza-se a fibra longa do kenaf, que corresponde a aproximadamente 35% da planta; o resto pode ser utilizado como combustível de biomassa. A poupança de energia incorporada corresponde a cerca de 17 kWh/m² de isolamento (no caso dos painéis de 6 cm).
Precedentes desta cultura na Estremadura
O cultivo de kenaf está localizado em áreas diferentes: EUA, Sudão, Egito, Índia, Austrália, China e Brasil e, em menor proporção, no Sul da Europa. Na Estremadura também existem precedentes desta cultura. Nos anos 50, a empresa KENAFESA (Kenaf Española, S.A.) instalou-se em Las Vegas Bajas del Guadiana. Foi aqui que se realizaram os primeiros trabalhos de secagem e obtenção das fibras derivadas do linho, cânhamo e kenaf. A fibra destinava-se principalmente ao fabrico de cordas. O cultivo e a empresa desapareceram no início dos anos 70 com a introdução das fibras sintéticas.
O kenaf é uma planta sensível ao fotoperíodo de dia curto. Esta sensibilidade permite classificá-lo como precoce, tardio ou muito tardio (floração entre início de setembro e meados de outubro), nas latitudes da Península Ibérica. Em média, a estação de crescimento dura 120 a 150 dias. Quanto maior for a estação de crescimento (floração mais tardia), maior será o rendimento de matéria seca e proporção de fibra longa. Por outro lado, o kenaf requer temperaturas elevadas para a germinação e o seu crescimento.
Na Estremadura, a cultura pode desenvolver-se perfeitamente em zonas irrigadas. É semeada nos meses de abril e maio e o seu ciclo estende-se até aos meses de setembro e outubro.
Ensaios com kenaf no CICYTEX
Os ensaios com kenaf começaram há vários anos devido à crescente procura de fibras obtidas a partir de caules de kenaf para substituir o plástico no fabrico de bioprodutos produzidos com fibras naturais que, ao contrário dos materiais plásticos derivados do petróleo, são renováveis.
São estudadas diferentes variedades de kenaf para analisar o seu comportamento agronómico nas condições da Estremadura, avaliando-se as produções e os rendimentos em fibras longas e curtas nos seus caules.
Uma vez avaliado o rendimento no campo, procede-se ao estudo do aproveitamento da fibra longa. O objetivo é obter um procedimento simples para fabricar filamentos para impressão 3D com fibra de kenaf, criando um catálogo de produtos com maior valor acrescentado que alargue os já existentes no mercado. Para realizar todo o trabalho relacionado com esta linha de investigação, há vários equipamentos disponíveis, tais como uma extrusora para o fabrico do filamento de impressão e uma impressora 3D para a utilização do mesmo.