Cereais de inverno
Informações gerais
São as principais culturas extensivas na Extremadura, entre as quais se encontra o trigo, a cevada, a aveia e o triticale. Os cereais de inverno para grão ocupam uma área de cultivo de mais de 200.000 hectares nesta região, havendo mais 60.000 hectares destinados aos cereais de inverno para forragem. Estas culturas são fundamentais em terras secas, onde a agricultura é, geralmente, a principal atividade económica. Os cereais de inverno são as principais culturas nestas zonas, onde existem poucas alternativas a estas espécies. Entre outros fatores, o aumento de pragas e doenças derivadas da monocultura destas espécies associado aos baixos preços de mercado dos últimos anos e a uma menor rentabilidade da produção deram origem a várias linhas de trabalho no CICYTEX orientadas para a disponibilização de alternativas ao setor cerealífero.
Novas variedades de trigo, cevada, aveia e triticale
A melhoria genética é uma das técnicas agronómicas que mais contribuiu para aumentar os rendimentos neste tipo de cultura. A título de exemplo, estima-se que nos últimos 24 anos tenha havido um aumento médio da produção de trigo mole de 50 kg/ha/ano graças à obtenção de novas variedades.
Por este motivo, o CICYTEX avalia, há duas décadas, novas variedades comerciais destas espécies de cereais dentro da rede nacional GENVCE (Grupo para la Evaluación de Nuevas Variedades de Cultivos Extensivos en España). Enquanto organismo responsável pelo GENVCE na região, realiza ensaios anuais em explorações agrícolas parceiras em áreas representativas: Campiña Sur ou na região de Olivença. O objetivo do GENVCE, que faz parte das redes de experimentação de variedades do OEVV (Oficina Española de Variedades Vegetales) do Ministério da Agricultura espanhol, é fornecer ao setor cerealífero informações precisas e práticas sobre a adaptação agronómica e a qualidade das novas variedades de cereais e culturas extensivas nas diferentes zonas de cultivo espanholas.
Por outro lado, o CICYTEX trabalha há anos na obtenção de novas variedades de cereais de inverno. As duas últimas variedades obtidas no centro são de triticale, uma espécie que resulta do cruzamento do trigo com o centeio. É um cultivo mais rústico do que o trigo e mais bem adaptado a solos mais pobres. O seu rendimento em grão nestas áreas pode ser ainda mais elevado do que o do trigo. Na nossa região, ocupa uma área de cerca de 20.000 ha, maioritariamente na província de Badajoz. É uma espécie com uma grande capacidade de germinação e tem a vantagem de ser uma cultura com dupla aptidão (forragem e grão). O seu grão tem destina-se principalmente à alimentação animal.
Melhoria do valor nutricional e técnicas alternativas para utilização na alimentação animal
No sentido de incorporar propostas inovadoras, inclui-se o trabalho realizado no âmbito do triticale biofortificado com selénio durante o seu cultivo para a utilização do seu grão na alimentação de suínos ibéricos. A biofortificação de selénio nos cereais forrageiros visa aumentar eficazmente a concentração deste micronutriente nos animais para melhorar a qualidade da carcaça da carne. Num projeto realizado no CICYTEX, incorporou-se o grão de triticale biofortificado com selénio em dietas na fase de pré-cebo ou pré-cebo+cebo para avaliar o seu efeito na qualidade final da carne. Os resultados obtidos foram a melhoria da capacidade antioxidante da carne, o prolongamento da sua vida útil e o atraso da sua rancificação.
Além disso, realizaram-se estudos relativos à utilização do triticale, que tem sido utilizado como forragem, dada a sua elevada produção de qualidade (elevado teor proteico) em épocas em que a produção de pasto é escassa (inverno). Comparou-se também a inclusão de grão de triticale face ao trigo em dietas de porcos ibéricos, não se tendo observado diferenças significativas.
Trigos antigos na alimentação e melhoria do valor acrescentado
As novas tendências alimentares orientadas para produtos saudáveis e o surgimento crescente de problemas em pessoas com intolerância ao glúten motivaram o estudo realizado no CICYTEX de variedades locais subutilizadas de trigo (Triticum aestivum), espelta (Triticum spelta) e espécies ancestrais de trigo (T. diccocum e T. monococcum) para recuperar estas variedades com mais propriedades nutricionais e um tipo de glúten digerido mais facilmente e que acrescentam mais valor às produções com carácter diferencial no mercado.
O T. monococcum foi o primeiro trigo domesticado, tendo sido documentado entre 10.000 e 7000 a.C. Como tem apenas dois conjuntos de cromossomas, é o trigo com menos elementos alergénicos. Tal como todos os trigos, esta espécie contém glúten, pelo que não é adequado para celíacos, mas é mais tolerado por pessoas que têm sensibilidade não celíaca ao glúten.
De momento, este trabalho centra-se no estudo do comportamento agronómico, da composição nutricional, da qualidade industrial para farinhas de qualidade e da digestibilidade do glúten destes trigos. Também se estão a realizar testes de panificação e avaliação da qualidade do pão em colaboração com o setor da panificação artesanal.